quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Desassossego II - César Bargo

Desassossego.

Um pé que insiste em tremer na busca por um ritmo onde música não existe;
Um poro que transborda em suor, onde a noite é seca, fria e triste.

Um rosto que foge ao encontro, ainda que os olhos busquem sua luz
Um desejo inócuo de mudança, despojada de sentido, ainda que alçada à condição de essência;
Um quebra cabeças, onde peças sem cor formam imagens que não conheço.

A condição de estar só, sem estar só, por só estar e ser;
A solidão de quem não vê que está com todos – que está com Deus.

Uma porta que insiste em ficar aberta – o vento que não passa por ela;
Um carro à distância que poderia vir aqui, parar aqui, ser daqui.

O tempo infinito;
O passar dos segundos, contados - incontáveis;
O acordar inevitável, antecipado;
O estar acordado, quando o certo é dormir!

Um medo;
Um susto;
Um nada e o tudo.

Minha condição transitória;
Minha história em desalinho.

Meu sono roubado em noites de outrem;
Meu desejo estampado no reflexo de seus olhos.

O bater de meu coração;
A certeza incauta que ela vai dizer não, quando quero o sim.

A água que cai na torneira, o ralo e o cano, rumo ao mar, e eu noto;
O verso que cobre a loucura, meu halo insano, rumo ao lar, e anoto.

O texto que passa por mim;
Meu registro na areia quando a maré vem.

O verso que me move;
Interno, externo -
O reverso de toda a prosa.

Desassossego.

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