terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Lançamento do livro Toque de Letra

Ontem lançamos o livro Toque de Letra de Paulo César Carvalho. O encontro na Livraria da Vila foi muito alegre. Muita gente bonita. Numa noite de segunda feira fiquei a apreciar o encontro dos meus amigos e dos amigos do Carvalho e da Marina. Coisa mais maravilhosa é quando gentes se juntam ao redor de um punhado de poesias. A mágica de um lançamento de um livro é poder congregar pessoas queridas entorno de um livro, de uma idéia, de um sonho. Pois afinal escrever e produzir um livro é um ofício que ainda requer ousadia. Sei que as vezes é amedrontador ou desanimador quando entramos numa livraria e vemos tantos títulos. Aquele que escreve se amedronda, fica acanhado achando que tudo aquilo que ele queria ou quer dizer já foi dito. Ser mais um no meio daquelas prateleiras, "será que meus escritos trarão algo novo..." O editor também fica um tanto desacossoado, quase desanima, pricipalmente um pequeno editor. "Meu Deus a concorrencia é muita! Só a livraria vai levar 50% do preço de capa, o gargalo das distribuidoras que vão comer mais um tiquinho, como fazer propaganda do livro que deu tanto trabalho para ser produzido???"
Lemos as últimas pesquisas e estas dizem que o brasileiro ler pouquíssimo, talvez um livro e meio ao ano. Tanto o escritor como o editor quase chegam ao beira de um ataque de depressão diante de tais notícias...Porém, o livro fica pronto. Depois de tantos percalços, medos, noites insones o livro é entregue. Aquele cheirinho de livro novo. Nos apaixonamos pela capa, alisamos as folhas virgens de olhares outros quase de modo erótico. Tateamos o livro como se ele fosse nos segredar algum mistério. Nos enchemos de coragem e vamos para o lançamento. Será que os amigos virão? Aqueles para quem eu dediquei o livro ficaram satisfeitos? Uma mistura de orgulho, satisfação e um medo do caralho da crítica toma conta de tudo. No dia o coração bate outra batida. E assim como no teatro, onde toda noite de apresentação daquela peça que está a um ano em cartaz é para o ator uma primeira noite, o dia do lançamento, não importa se do primeiro livro ou do décimo faz o cabra tremer nas bases. Se é um editor solidário e que aposta no autor ele também treme e se alegra quando a casa enche, os amigos chegam e podemos ver o autor entre o acanhamento e a alegria mais besta de menino se entregar aos autógrafos. É bem verdade que já vi cessões de autógrafos extremamente chatas, onde o autor fazia aquilo quase como uma obrigação insuportável e puto por você está ali comprando um livro dele e ainda pedindo um mísero autógrafo. Alguns beirava a deselegância. Assim como tinha os que buscavam o autógrafo e achava aquela rabugisse o máximo, um certo masoquísmo. Tenho gosto pra isso não. Gosto do autor entregue ao seu público.
Assim como foi a noite de ontem. Foi bonita alegre, cheia de energia. O autor se derramando em agradecimentos, álacre. E como já disse nas palavras de editor no livro Toque de Letra, fiquei muito feliz de poder botar mais poesias num mundo que está tão árido, mercantilista e deselegante. Parabens para o Carvalho o poeta e Marina que ajudou na produção desse novo rebento da Nhambiquara

domingo, 20 de setembro de 2009

ensaio cinquentenário


Ensaio cinquentenário.

Tem uma hora em que não podemos evitar de fazer uma reflexão sobre o envelhecer. O termo reflexão é bom, pois ele surge do reflexo que o espelho nos traz, dos reflexos que os outros mais jovens ou mais velhos nos provocam.
Chega o dia em que uma mudança ocorre sutil, às vezes na forma de um sonho, uma sensação, uma pequena dor, um prazer diferente, uma noite insone, um gesto que é feito ou que não pode ser feito, uma palavra ou um olhar que nos é dirigido... e então descobrimos que não somos mais jovem, mais, que estamos envelhecendo.
Vêm milhões de comparações. Afinal, se o tempo é relativo como afirma à física, na nossa breve existência humana ele adquire sentido quando usamos medidas de comparação. Tendemos a nos comparar pela medida dos outros ou em relação a outro.
Comparemos nossa existência, nosso vigor, nossa aparência, nossos feitos, nossas conquistas, nossas derrotas pelo crivo do tempo. Este sim é um devorador de seus filhos. Nada sobrevive ao tempo. O que pode resistir ao tempo? Tudo adquire sentido mediante o tempo. Em quanto tempo? Quanto tempo durou? Quanto tempo ainda eu posso? Quanto tempo ainda eu tenho? O que aprendi nesse tempo? “Tempo rei, oh tempo rei! Não se iludam. Não me iludo. Tudo agora mesmo Pode estar por um segundo...Tempo Rei!”Talvez seja o tempo a nossa ultima quimera.

Quando meus parentes lá na Serra da Capivara resolveram deixar o desenho rupestre de um parto eles queriam deixar na dura pedra uma marca da vida breve e frágil. Assim fazemos desde muito tempo. Precisamos criar marcas, balizas para que no caos do tempo longo e infinito em que somos todos lançados, possamos produzir um sentido existencial e afastar o medo do fim. É o fim que nos assombra. Quando dele mais nos aproximamos indagamos se gastamos ou usufruímos o tempo ganho. Nunca haveremos de ter uma resposta absoluta. Essa relação diária de perdas e ganhos que tomamos consciência é algo inquietante. Às vezes divertida noutros angustiante.

Certa feita, eu, meu filho e alguns de seus amigos mijávamos ao relento, no mato. Coisa de meninos. Prazenteiros, nós observávamos a curva do jorro e o barulho na grama quando um deles fez uma observação quase cruel: Ih! O Tio não consegue mijar longe. De fato. Respondi que eles também não conseguiam mijar por tanto tempo quanto eu. Tinha uma bexiga de camelo. Se já não conseguia mover as pedrinhas de naftalina no mictório do bar pelo menos conseguia segurar por mais tempo a mijada e até mesmo o gozo. Coisas que só aprendemos ou adquirimos com a idade. É um ponto de vista, do jorro, da vida.

No bar a mesa ficou cheia. Pessoas de diferentes idades. Um encanto de encontro. No canto uma moçoila de beleza ímpar, com o frescor da juventude a lhe aumentar a áurea encantadora. Botei reparo. Não tinha a intenção de seduzi-la, mais bem que me lembrei de um tempo passado, em que com certeza, moveria mundos ou pedrinhas de naftalina para tê-la em minha companhia. A conversa rolou e em determinado momento veio um lampejo de sedução. E o que agora seduzia era a conversa boa e inteligente. Tão agradável era a prosa e a sedução das palavras, das histórias, que naquele instante sexo oral adquiriu outro sentido. Coisas ou ganhos que o tempo nos traz. Se vivermos a nossa juventude com a devida intensidade, coragem e gozo quando o tempo chegar para cobrar sua fatura, nós teremos não somente envelhecidos, posto que é inevitável para quem vive, teremos ficado antigos. E é uma diferença importante. Carro velho você se livra, mas um carro antigo você coleciona.

As perdas são muitas e cada dia desde que nascemos é um pouco a mais. Mesmo que tenhamos a ilusão que estamos sempre ganhando. Essa ilusão acaba talvez depois dos quarenta ou cinqüenta. Se estivermos atentos há um momento em que sabemos, que não teremos tempo para realizar todos os sonhos do mundo, mas que ainda podemos sonhar. E não adianta sofrer nem com futuro nem lamentar o tempo passado. Aliás, dizia Sêneca duas coisas importantes, uma sobre o sofrer antes, que segundo ele é sofre mais que o necessário e a outra era sobre a velhice “Quando a velhice chegar, aceita-a, ama-a . Ela é abundante em prazeres se souberes amá-la. Os anos que vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida de um homem, Mesmo quando tenhas alcançado o limite extremo dos anos, estes ainda reservam prazeres.”

Se meu pai não tinha a erudição de um Sêneca, pois afinal era um sertanejo com pouca instrução ele tinha uma sabedoria admirável. Ele dizia de forma reta: “envelhecer é uma merda! Mas veja bem. Agora que pra fazer uma viagem o tempo é tão curto e não é mais em lombo de burro; que pra falar com alguém tão longe é só pegar o telefone; para beber uma água não precisamos mais ir buscar no barreiro, é só abrir a torneira; agora que batemos num botão, temos luz elétrica e o melhor, as moças não escondem mais os joelhos naqueles vestidos... Eita, agora que tudo está tão bonzinho ter que deixar essa vida, é triste, quero não!” A gente aprende com os antigos!

Quero a vida com largura e comprimento. Se não for possível ter os dois, que me seja larga.
Para viver bem e envelhecer bem, temos que ter certo desapego. Quisera ter o desapego budista, saber do vazio e não preocupar com a poeira que possa se acumular no espelho da minha mente, já que tudo é vazio. Sei que tudo é ilusão, tudo é passageiro mais ainda fico preso e procuro limpar a poeira que nesses anos vividos deixei acumular. Sempre me atirei na vida e agora que sei que ela se move rapidamente. Mais ávido por ela estou.

Já não tenho a ilusão juvenil de que viverei para sempre, procuro não desperdiçar nenhuma gota da água ou do vinho que bebo, nem um naco da boa comida que recebo, nenhuma fragrância do cheiro que me seduz, nenhuma palavra bem dita. Até mesmo as limitações, dores, frustrações que me acometem procuro receber. Tudo é presente, tudo é um presente. Não é que estoicamente aprecie, porém, começo a perceber que não vou conseguir esticar um minuto a mais da minha vida. Encurtar talvez seja mais fácil. Mas tenho dúvida se de fato podemos encurtar ou acrescentar um segundo a mais. Essa arrogância eu não tenho. Sei que muitos tentam esticar, a pele, o pau, eliminar as rugas, os sonhos frustrados, as gorduras. Querem ser o que na verdade o que nunca foram e procuram ser “modernos”, conectados com tudo, a tudo e a todos, menos consigo mesmo. Acho ótimo quando consigo ter a rara sensação de que estou conectado a todos e as vezes que isso me ocorreu estava na mais absoluta “solidão” sem telefone, internet, ou estava na companhia de uma criança ou de um cão. Um aprendizado. Nada tenho contra essas boas facilidades, novos brinquedos que podem nos aproximar. Antes, os pensamentos saudosos ficavam presos, demoravam em serem revelados, anunciados, enviados, hoje em segundos nos revelamos gritamos em torpedos a nossa saudade. Gosto disso.
Em um evento em que se debatia sobre sexualidade alguém quis criar uma desculpa para a escassez das trepadas e trouxe aquela pérola de discurso: “o que importa é qualidade e não a quantidade”. Caralho! Importa a quantidade sim e se for uma trepada bem dada, bem feita é uma maravilha. Sempre achei que sexo e trepar são como democracia para um país, se é pouca é bom, se é muita é excelente. É lógico que com a idade manter o vigor sexual requer mais exercícios. É como qualquer outro exercício físico. Se parar desacostuma, atrofia, perde o rebolado. Sabemos que não será mais como na juventude onde os hormônios saiam pelos poros, a qualquer toque de pele era pau duro na certa, um beijo de língua..vixe Maria. Mas com o tempo descobrimos a maravilha de um beijo de língua, as sutilezas dos toques, das carícias, dos afetos e porque não, das maravilhas das indústrias farmacêuticas.

Do amor. Não é que o amor e o sexo tenham a obrigação de andarem juntos ou separados. Os dois são bons e importantes de qualquer jeito. Cada um tem a sua singularidade e complexidade. Mas assim como sexo muda com a idade o amor também. Não posso esquecer o belíssimo trecho do livro O amor nos tempos do cólera em que Firmina Daza escreve numa carta para Florentino Ariza: “deixe que o tempo passe e já veremos o que traz.” Acalmava ela a ansiosa espera de cinqüenta e um anos, nove meses e quatro dias de Florentino. Não importa o tempo para os amantes. Dizem que ele pode curar as dores de um amor que acabou, pode até nos fazer esquecer um amor, mas não pode impedir que o amor venha, e há quem diga que o amor é capaz de vencer o tempo. Muitas vezes o amor fica lá quieto num corpo velho, adormecido, mas quando sopra o misterioso vento do imortal desejo ele se assanha, fica cheio de frescor, o coração bate forte e mesmo com “o cheiro azedo da idade” o beijo pode ser cálido. E haverá tantas coisas a serem ditas... O amor é pra ser vivido em qualquer idade. O tempo só o torna mais saboroso, mais lapidado, menos cheio de posses e ciúmes tolos, até porque a brevidade da vida nos ensina que não temos tempo a perder.

Já não mijo tão longe, já não como tudo sem sentir azia, já não bebo todas, já não fumo tudo, já não.... Se tem um monte de coisas que já não faço, algumas delas eu estou feliz em não mais fazer. Já não acho que tenho razão em tudo, já não faço ou tenho a estupidez de antes, as grossuras, as indelicadezas. Já não acho que aqueles que não são do meu grupo são menos qualquer coisa. Não deixei de ser radical, mas deixei de ser sectário. Não deixei de acreditar na capacidade humana de fazer coisas boas, belas. Apenas aprendi que somos capazes de fazer também coisas horrorosas. A revolução? Ela é permanente e tem que ser global e começa dentro de mim. E mais do que nunca, não admitirei que ninguém governe meu espírito. Pensando bem...talvez a enfermeira bonita que contratarei quando estive meio baleado.

E para concluir lembro mais uma vez Sêneca “ Não temos exatamente uma vida curta, mas desperdiçamos uma grande parte dela. ..Muito breve e agitada é a vida daqueles que esquecem o passado, negligenciam o presente e temem o futuro”. Chega de desperdícios que venham mais cinqüenta anos.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Meus velhos livros

Meus velhos livros.

Certo dia no meio de uma polêmica de como organizar minha biblioteca meu afilhado me perguntou porque eu tinha tantos livros e se eu já tinha lido todos. A pergunta talvez fosse simples e merecesse uma resposta simples, curta. No entanto, eu estava com tempo e respondi de maneira longa, quase uma história. Fiz assim como fazem as mulheres todas as vezes que alguém comenta a respeito de um vestido que elas estão usando. Elas contam uma história.
Contei para ele o quanto gostava de ler gibis quando era um guri da idade dele. O apreço pelos gibis me fez gostar da leitura. Lembrei do dia em que ganhei meu primeiro livro.
Era madrugada do primeiro dia de férias, ainda meio sonolento, vi quando meu pai chegou da rodoviária com a minha irmã que morava em Natal. Além da saudade da irmã que tinha ido embora pra capital, tinha sempre uma grande expectativa dos presentes que ela trazia. Uma besteirinha qualquer era um presentão. Naquela vez ela não me trouxe nenhum brinquedo ou alguma guloseima, me trouxe um livro. Um belo livro. Lembro até do cheiro de tinta nova. Capa dura sem muitas figuras e com muitas palavras. A Vida e as Estranhas Aventuras de Robinson Crusoé um clássico, que na época eu nem sabia o que era um clássico ou mesmo um best-seler. Eu menino pouco afeito ao futebol, devido a minha miopia, resolvi canalizar as minhas energias para a leitura e as punhetas normais de um guri da minha idade. Robinson Crusoé veio dar um colorido novo à minha vida de menino lá do cariri. A aventura, a solidão, a engenhosidade e as inquietações daquele naufrago se instalaram na minha alma assim como o gosto pelos livros. Nunca tinha visto o mar e o livro me fez navegar, saber das tempestades, dos piratas, como sobreviver. Vejam só, um livro inglês de 1719 foi mexer com o imaginário de um menino nordestino em 1969. No sítio da minha tia trepado nas mangueiras somente na companhia do cachorro surubim, meu Sexta Feira, me imaginava naufrago a enfrentar piratas. Daquele dia em diante tomei gosto pelos livros. Lia de tudo. Os pequenos livros de faroeste americano, livros com as histórias dos santos, a bíblia, cordel, até o dia em que meu professor Ribamar meu deu um clássico brasileiro: Dom Casmurro. O fantástico é o que uma história bem contada nos faz, além de nos transportar para a época narrada, pode nos proporcionar a mistura de nossas histórias e com elas aprender pra vida. Até mesmo achar que nossa história é um livro ou que o autor nos conhece, sabe das nossas dores misteriosamente. Vejam só, assim como Bentinho minha mãe queria que eu fosse padre. Aí já deu o gancho! Estava apaixonado por Lavinha minha vizinha, nela meus olhos viam minha Capitu. Eita! Tão interessado e envolvido na história de Machado que descuidei de Lavinha, que foi se enamorar de Emanuel que tinha bicicleta, sabia jogar futebol e estava cagando e andando para os livros de romance. Mas não desanimei. Se os livros eram mais fieis não desisti de amar e desejar as mulheres. Eles os livros ate me ensinaram muitas coisas boas, bonitas para dizer nas horas certas de encantamentos e desfrutes. Poemas, histórias de amor, de aventuras, tratados filosóficos, relatos, biografias de pessoas tão ilustres tudo eu ia apreciando, procurando, curiando, querendo aprender, saber...o que? Pra conhecer uma outra alma conheça primeiro a tua já disse alguém em algum livro já lido. Deve estar lá na estante me esperando para ser relido e fazer eu descobrir que nunca conhecemos profundamente a nossa alma, muito menos as das mulheres sejam elas Capitu, Julieta, Maria Homem, Gabriela, Clarice, Guiomar, Luisa e tantas outras. Ao revisitarmos as nossas entranhas nos surpreendemos, assim como um livro quando é relido e observamos nuances, detalhes, frases preciosas que na primeira leitura não vimos. Até porque não estávamos preparados. É...Tem disso. Alguns livros devem ser lidos na maturidade certa e isso é inexplicável, pois cada um tem o seu momento certo. Um livro pode trucidar uma alma assim como transformá-la completamente. A Mãe, de Gorki, para mim foi um livro que me deu esperança, crença em um ideal e acho que o li no momento certo. Os nomes russos eram um horror para minha compreensão, mas a coragem, a luta revolucionária, o amor da mãe para entender aquele espírito rebelde, a amizade lapidaram minha alma juvenil... Já o livro Crime e Castigo comecei a ler num momento inoportuno. Não estava preparado. Tinha pesadelos terríveis, acordava suado, assustado e tive que parar de ler. Somente tempos depois foi que consegui ler sem tanto sofrimento. Mas se os livros podem provocar sofimento também trazem as delicias o contato com os prazeres mundanos. A sensualidade e erotísmo com que Jorge Amado descrevia as histórias de amores no meio dos reboliços das brigas dos coronéis ou mesmo a singela passagem em que Dora se entregou a Pedro Bala me comoviam e me deixavam excitado. Muito hormônio, rapaizote, qualquer insinuação era motivo para os pensamentos fantasiosos. Imaginação não me faltava e os livros vieram pra ampliar as possibilidades criativas.
Mostrei para o meu afilhado dois livros que tenho muito apreço. Um eu não consigo ler uma palavra. Moby Dick romance do autor americano Herman Melville edição em alemão de 1954. O livro é lindo, tem uma capa de madeira as ilustrações feitas a bico de pena. A abertura era inteligível mesmo em alemão, era forte, talvez por que já conhecesse da versão em portugues: " So nennt mich denn Ismael. Chamai-me Ismael. Se não conheço a língua posso apreciar a forma, o feitio caprichoso, a beleza dos desenhos. Nem tudo a gente precisa entender para apreciar. O outro é um livro de poemas de Gonçalves Dias que em 2010 fará cem anos. Cinqüenta anos mais velho do que eu. Os poemas são lindos, o livro é pequeno com uma capa vermelha surrada, folhas amarelas que pedem cuidado, delicadeza no manuseio. E nele mais uma lembrança de quando menino tive que decorar "Minha terra tem palmeira onde canta o sabiá". Um livro de cem anos.
Quando nos meus cem anos eu chegar, caso eu chegue lá, eu o darei para o meu neto e talvez ele nem entenda o que é um livro ou porque eu guardei um “objeto” tão estranho, assim como o disco de vinil é para alguns jovens de hoje. Mas eu serei um velho assim como o livro e espero ainda estar cheio de poemas. Espero que meu neto que ainda virá, não precise entender tudo, o todo para amar um presente que veio do passado e que por muito tempo criou futuros. E ele lerá para mim: "Houve um tempo em que eu pedia uma mulher ao meu Deos. Uma mulher que eu amasse. Um dos belos anjos seus", Estão lá os livros a minha espera.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Morreu Michael Jackson em Los Angeles e Maiquel Jekson de Quixeramobim

Morte é trem misterioso! Diria meu amigo mineiro. Já Jesualdo, cearense, já diria: pense num bicho esquisito! Francelina, filha de Franciné e Francisca, que tem por irmã Chiquinha assim chamada pra não ser confundida com a mãe, e que é uma das carpideiras da minha terra, já diria: todo bicho vivo é chegado a morrer, morte é descanso!
Se o cabra vivia no bem bom descansava da boa vida e se a vida era uma bosta, descansava da vida ruim que levava. Se era perverso descansava das ruindades feitas e se era uma pessoa boa foi descansar ao lado da virgem Maria.“A pessoa morre como vive. Se enterra como pode, até porque um enterro descente tá pela hora da morte”.Essa era mais uma das teses dela.
Mas esse giro entorno da morte me veio com o falecimento de Michael Jackson. Veja bem, falecimento. Porque gente famosa não morre, falece. O enterro é sepultamento ou traslado do corpo feito num carro fúnebre ou num féretro. E dependendo das posses, as carpideiras como Francelina, que iam chorar por devoção religiosa ou uns trocadinhos bestas, são contratadas a preço de ouro e em papel juramentado por um excelente advogado. No velório, em vez de ser servido um aluá, um refrigerante, uma sopinha feita pela vizinha que se chega para ajudar a viúva ou viúvo, o que é servido é cicuta. Não se conta piadas, mas todos os podres do coitado falecido. O enterro é um evento espetacular.
Só sei que a sabedoria de Francelina me veio a memória com tantas horas de exposição da morte. As pessoas morrem como vivem e são enterradas como podem. O enterro foi um último show, féretro banhado a ouro, evento muito caro.
O quanto podemos querer de eternidade ou acreditar em infinitudes, seja do nosso legado ou da nossa vida comesinha? Sei não! Perguntas bestas sempre nos assombram nessas horas ou eventos. Trem misterioso. Na lápide do Rei do Pop “Rest In Peace”. Michael Jackson descansou. Porém, a morte continuou um trem misterioso ou um bicho esquisito. Afinal todos nós somos bichos morredores e até o virtual se deleta...
E Maiquel Jekson?
Morreu não. Foi só um passamento ligeiro, bucho vazio...tá tinindo lá em Quixeramobim.Vivinho da silva!

domingo, 14 de junho de 2009

Garrafas com Mensagens lançadas no rio Tejo

Garrafas com Mensagens lançadas no rio Tejo


“O tempo que é intolerante com os audazes e com os inocentes e que em uma semana esquece um corpo belo, venera a linguagem e perdoa aqueles que a fazem viver.” W.H. Auden, “em memória de W.B. Yeats

Começo com uma citação, que me faz ter presunção que não escreverei algaravias, por tentar colocar no texto sentimentos vividos numa viagem feita em busca do passado ancestral na terra de Pessoa e de Cervantes. Foi entre Lisboa e Madri, que o desejo de reter a memória em palavras se constituiu como modo de suplantar o medo de enfrentar o tempo, esse intolerante que é capaz de corroer feitos heróicos marcado no ferro ou nas paredes dos castelos. Quanto mais as simples lembranças de um vivente, que na companhia familiar, buscava apenas encontrar as raízes e o sentido do que era.
Alerto aos incautos futuros leitores, diante mão sei que não escreverei com o primor dos mestres já citados. Mas não tenho esse arroubo, pois o que me leva a escrever é apenas dois intuítos: um já revelado acima, e o outro o de compartilhar. Portanto, nos resta cumprir os desígnios da escrita e da linguagem que é escavar as profundezas da alma, das experiências vividas e nos deparar com a condição humana, numa troca entre o que escreve e o que ler. Contar um pouco dos sentimentos que me acometeram, talvez...
Por isso escrevo em meio/Do que não está ao pé,/Livre do meu enleio,/Sério do que não é/Sentir? Sinta quem lê!”
Estávamos em quatro, dois homens e duas mulheres. Eu já na minha meia idade voltava ao velho continente, porém às terras nunca antes vista, mas tão conhecida nossa pelos costumes, histórias, língua e cultura. Portugal e Espanha. Meu sogro buscava nas terras portuguesas e espanholas restos do que fora seus antepassados. Ele um septuagenário com o agravante de estar com Alzheimer. Minha mulher e a esposa dele empenhadas em realizar talvez um último desejo dele, conhecer as terras dos seus ancestrais, antes que a enfermidade avassaladora apagasse de vez a memória do que era, do que fora. Desde o começo da viagem me perguntava o que buscávamos o que aprenderíamos em tão distinta situação. Sabia que não seria uma viagem fácil, não só pelas condições que se apresentavam como pelas idiossincrasias tão diferentes. Há um ditado na minha terra que diz que para conhecer o outro tem que comer um quilo de sal com ele. A convivência rotineira ou a situação peculiar de uma viagem a terras estranhas ou estrangeiras é capaz de revelar um pouco mais de nossas sombras e luzes.
A primeira coisa que se revelou, foi que estávamos buscando compreender o que o tempo/memória havia feito conosco. Era perceptível ou muitas vezes sutil a presença do “tempo intolerável” como companheiro de viagem. Intolerável com os monumentos, com a história, com os amigos que encontramos, com nós mesmos.
As experiências vividas e as marcas culturais do que acreditávamos que fossem nossas matrizes, enquanto indivíduos ou povo, se apresentavam como um labirinto a ser percorrido. As ruas de Lisboa eram um espelho desse labirinto. A convivência cotidiana em terras estrangeiras também nos traria isso no aspecto mais singular e pessoal. Mesmo para a filha, a convivência constante de mais de vinte dias com os pais há muito não era experienciada. Para nós dois forçosamente haveria o espelho do que seria uma relação longa e o que significava envelhecer. Se nós filhos do novo mundo voltávamos para o velho mundo em busca de conhecer o que nos formava, era nos mares das emoções da relação familiar que jogávamos nossas caravelas, pois "navegar é preciso mais viver não é preciso". Viveríamos a busca e a perda da memória e suas implicações. A dificuldade de como lidar com uma doença degenerativa sem infantilizações do outro, como respeitar a alteridade, como aceitar sem fatalidade as condições adversas que a vida nos traz e como re-aprender ou aprender novos modos de lidar com as questões mais prosaicas e práticas cotidianas.
Tínhamos traçado uma rota que não pode se cumprir na sua totalidade. Conhecemos em Portugal Porto, Fátima, Lisboa, e na Espanha, Madri. Antes havíamos passado por Paris. Havia eleições para o parlamento europeu e a TV ou os cartazes nas ruas falavam de crise e sub-repticiamente destilavam um discurso xenófobo. O velho mundo estava intolerável com todos aqueles por eles chamados de estrangeiros. As muralhas foram re-erguidas ou talvez nunca tenham sido demolidas. A palavra de ordem era a mesma de quinhentos anos atrás, fora os “mouriscos, os marranos” ou todos aqueles que não são considerados europeus, cristãos, brancos. A Europa virara as costas para aqueles que antes foram de suas colônias. Para muitos estes não merecem viver as benesses da comunidade européia. Riqueza usurpada e produzida com o trabalho das antigas colônias.
A história só se repete como farsa, dizia o velho judeu europeu Karl Marx. Vivemos um tempo farsesco, mas não menos cheio de intolerâncias que tempos idos. No entanto, alguns eventos da história, como farsa ou não, assim como as ondas do mar, repetidas vezes voltam a lamber novamente as praias da nova sociedade. Do mesmo modo as velhas lembranças, que nos acometem e vêm na sua repetição nos ensinar, ou transmitir um conselho qualquer. Mas vivemos desmemoriados, fast, fugazes onde nossas experiências, aprendizados, são rapidamente descartadas para não ocupar demais a memória RAM. Tudo se torna uma nota, uma breve notícia que no jornal de amanhã nem será lembrada ou comentada. Ficamos perplexos diante de todas as precariedades da sociedade contemporânea. Somos estrangeiros em todas as pátrias. Com o sentimento de que “não sou nada, nunca serei nada, não posso querer ser nada...A parte isso, tenho ( acredito que devemos ter) todos os sonhos do mundo”.
Já não há mais os apelos solidários, fraternos de união dos povos. Muros caídos, muros erguidos assim ocorre em vários rincões do mundo, muda apenas o discurso de intolerância. E esse era o contexto social e político onde ao mesmo tempo se desenvolviam as nossas descobertas e dramas familiares.
Visitávamos castelos que foram conquistados dos Árabes, igrejas que antes foram mesquitas, sinagogas, as histórias que tínhamos aprendido nos livros agora adquiriam outra cor ou mesmo concretude. Diante das datas, marcas, marcos, línguas e costumes que agiam com indutores das lembranças das minhas histórias, pude assim constatar a força do poeta: “O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia/ Porque ele não é o rio que corre pela minha aldeia.” Andávamos pelas ruas com casarões, prédios com arquiteturas tão conhecida. Palavras tão comuns aos nossos ouvidos, nomes, sobrenomes, lugares que tinham o mesmo nome nos dois lados dos continentes. Augusta, ribeiras, Santos, Belém, Madalena ...Os sítios assim nomeados eram um modo dos saudosos conquistadores reterem cá nas Américas a memória, a lembrança da terra ausente, distante. “Ó macio Tejo ancestral e mudo,Pequena verdade onde o céu se reflete! Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje! Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.” O que nos irmanava o que nos afastava? Qual era a nossa memória, história comum e se essa história era possível de criar laços ou criar muros, eram questões que me inquietavam. De certa forma eu era mais que um turista acidental ou me propunha a ser.
A ida para Portugal e Espanha criou grande expectativa no meu sogro. Em muitas oportunidades ele se apresentava como descendente de espanhóis e portugueses, sempre de maneira que isso lhe desse algum status por ser um pouco europeu. O pai descendia de portugueses e tinha uma presença fraca na sua formação, quando não, havia um trato pouco amoroso das lembranças desse, que se expressava nas palavras pejorativas dirigidas aos portugueses em geral. Marcas de uma relação conflituosa e rígida. A lembrança forte era do avô materno, espanhol. Este ocupava a figura central de suas memórias de menino. Por ele, o avô, é que havia acalentado a viagem a península e combinado com sua filha. A viagem há muito planejada se tornou urgente quando algumas enfermidades o acometeram. No entanto, nós não tínhamos noção de quanto o Alzheimer havia comprometido sua memória imediata. O que antes para ele seria um encanto, conhecer Portugal e Espanha, no instante que em se concretizou, se tornou uma relação dúbia as vezes de afeto e agradecimento a filha ou jocosidade e indiferença. As memórias recentes se esvaiam. O instante imediato não era apreendido, era esquecido, o último almoço, visita da manhã, a degustação dos pratos típicos, a beleza de Goya, a vista do rio Mondego, o pátio da universidade de Coimbra, o lamento do fado, a espanha altiva, o que era a monumental história de sua história não podia ficar retido. As ruas, as pessoas se misturavam com as lembranças do passado e a imagem que vinha habitar o presente ibérico eram as lembranças do passado quando jovem no Brasil. Até mesmo a imagem passada do que ele acreditava que fosse o “seu Portugal e Espanha” não se coadunavam com o presente vivido. Nada se assemelhava aquelas aldeias de sua memória de garoto. Dissonante, discordante, fugidio o presente escapava-lhe, a terra dos seus ancestrais se tornara desinteressante, fastidiosa, fatigante. A sua personalidade de rigidez e teimosia que se acentuava com a enfermidade dificultavam-no a ter a noção exata do problema que tinha, assim como criar novos hábitos que o facilitasse a navegar por esses mares sombrios do esquecimento. Não havia sabedoria naquele esquecimento. A sabedoria que o poeta descreveu como:“Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo,/ E ao beber nem recorda/ Que já bebeu na vida,/Para quem tudo é novo/ E imarcescível sempre.” Havia angustia. Principalmente daqueles que o acompanhavam. O medo de o verem chegar ao quarto da memória e encontrar apenas ..."uma cousa escura com paredes vagamente brancas".
Eu que sempre me sentira um verdadeiro mestiço brasileiro e que em outros tempos jamais me imaginara a caminhar pelas ruas de Lisboa e Madri, percorria cada ruela, sítio histórico entre a contemplação e a meditação. Meditava sobre o destino que me levava a fazer aqueles caminhos, acompanhado de um homem claudicante que em busca das memórias se via desprovido delas. Nesse paradoxo que a vida apresentava importava não somente o efeito biológico do Alzheimer, mas os aspectos simbólicos e sociais que trazia para mim. No aspecto singular e pessoal pensava que poderia no futuro estar sujeito ao mesmo processo que passava meu sogro. O futuro era insondável e assustador. Eu que prezava tanto a memória e a contação de histórias poderia ser vítima de uma doença degenerativa, que iria solapar todas as minhas lembranças, experiências, recordações de amores vividos, o riso novo e o passado, o novo contemplado, degustado e principalmente a minha capacidade de aprender novas coisas. Todo aprendizado requer uma disposição e vontade para querer aprender e ao mesmo tempo um dose de repetição que não teria mais como fazer e reter. Esses pensamentos se apossavam de mim nos instantes mais impresumíveis, diante do quadro as Três Graças, de Rubens o mestre flamengo, e ao admirá-lo o temor de não poder usufruir do Amor, Alegria e da Folia. Ao observar as marcas deixadas nas escadas de um castelo, nas ruínas de uma igreja derrubada por um terremoto, eu receava por vir esquecer os castelos que ergui e os tremores e temores que senti e enfrentei. Reter e perder, faces da mesma moeda do fardo humano. Tudo é passageiro, isto também passará, mas temos a crença ou ilusão de que com a nossa memória eternizamos a tudo e a todos com os quais estabelecemos alguma relação. Que o nosso presente está sobre bases sólidas de um passado menos ou mais virtuoso. O futuro é insondável para todos, até porque a velhice e a morte sempre são as únicas certezas para aqueles que escaparam da morte prematura. Eu era um desses, (não morri quando criança, apesar de ter tantas vezes morrido de tristezas, de alegrias, de amores), a caminhar por ruínas ou por avenidas de uma Europa opulenta. Sabedor e sendo relembrado que senão a velhice, alguma enfermidade, ou as mortes que são tantas, haverão de me desprover de algumas memórias, me privarem das minhas doces lembranças. “Trago dentro do meu coração/Como num cofre que não pode fechar de cheio/Todos os lugares onde estive/Todos os portos a que cheguei...”
Meu sogro no seu caminhar titubeante e constantemente cansado, nas repetidas perguntas e gestos que fazia, na sua preocupação com as horas, na sua busca das raízes e ao mesmo tempo estranhamento delas, a raiva contida, talvez por “não ter trazido o passado roubado na algibeira”, era uma oportunidade que se apresentava de pensar e repensar a mim mesmo. O que sou, ou imagino que seja e do que não quero ser. “Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?” Até por saber que há muitos eventos inexoráveis futuros, porém, por acreditar que somos também o que construímos é que fiquei a matutar, a tentar da mistura da experiência vivida, dos poemas e livros lidos na viagem produzir algum sentido.
Sou daqueles que acredita que cada pessoa é um livro de história em potencial, um romance a ser lido no mínimo por aqueles que lhe acercam de imediato. Mas estamos sem tempo. E o tempo esse intolerável não nos poupara. Inocentes ou audazes estamos fadados ao esquecimento? A doença degenerativa da memória aflige não somente os indivíduos ela já se tornou um mal social.
Por isso seguindo os conselhos Alberto Manguel, W.H Mauden e Fernando Pessoa percorri o caminho da linguagem e naveguei por entre verbos, adjetivos, substantivos, poesias na busca de sentido para uma experiência tão intensamente vivida numa viagem as terras de Cervantes e Camões. Não cheguei a nenhuma conclusão, até porque a “única conclusão é morrer”. E eu sigo vivendo e como os marinheiros (náufragos) lançando ao mar garrafas com mensagens, e se por caso elas não encontrarem os endereçados que voltem para mim como memórias.

*todos os itálicos são trechos dos poemas de Fernando Pessoa no seu livro O Eu profundo e os outros Eus. http://www.pessoa.art.br/
“A Cidade das Palavras – As histórias que contamos para saber quem somos” de Alberto Manguel foi o livro que me instigou a escrever esse relato.(http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20081123/not_imp282062,0.php)

terça-feira, 9 de junho de 2009

Memória

Escrever um livro talvez seja a tentativa mais desesperada de reter a memória. Platão achava que a escrita iria fazer as pessoas perderem a memória. O mesmo preconizou alguns arautos do fim do mundo, que a perda da memória aconteceria devido a informática e a internet. Por preguiça armazenaríamos tudo em discos rigidos, chips, celulares etc. É bem verdade que ando esquecendo algumas coisas. Não sei a quem culpar. Já queimei bastante neurônios quando adolescente, mas acreditava até então, que ainda tinha ou tenho alguns milhões deles onde poderiam ficar registrados eventos tão importantes quanto o primeiro olhar da Laura e do Biel, o por de sol na chapada do Arararipe, aquela trepada no mato numa noite de lua cheia, os motivos das marcas pelo corpo, um velho anel, aquele cheiro, aquele gosto, o poema de... aquele autor.... o ...aquele....Não pensem que esqueci...Neruda, Vinícius, leminsk, Carlos, Manuel, Cora Coralina, Elisa Lucinda, Augusto dos anjos....tantos poemas e poetas que fiizeram minhas memórias ficarem mais leves e encantadas. Talvez a minha idade esteja a me roubar algumas boas lembranças, ou o tempo tão sem tempo para dedicarmos a uma boa prosa, a contação de nossos causos regados por uma boa bebida e comida slowfood. Talvez por essa necessidade de reter a memória que acredito na escrita, nos livros. Acredito que os autores sérios escrevem não por vaidade, mas para dar vasão as suas angustias, inquietações, ou tentativa desesperada de poder deter o que é finito. Tudo bem...uma dose de vaidade não faz mal a ninguém. Que se ganhe uns trocados e uns sinceros elogios não é mal. E ainda mais se aquela pessoa que você tanto deseja se deixar encantar por suas palavras e vir a... sei lá...quem sabe... Como diz os mineiros: Bão também! Tudo vale a pena quando a alma não é pequena já dizia... Ah lembrei: Fernando Pessoa. É isso aí, nesses tempos de tantos exercícios físicos vamos ler e escrever, musculação para o cérebro.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Madri com Amélie Nothomb na la Buena Vida

Madri é uma cidade linda. Eu já estava bastante comovido com algumas copas de vinos quando a lua resolveu me visitar na plaza Cervantes, surgindo por traz de um velho prédio do século dezoito. Alegre mas non trôpego resolvi caminar pelas pequenas calles. Fique encantado com pessoas e as livrarias que sao muito charmosas. Perto do Palacio Real, na Calle Vergara, encontrei La Buena Vida - café del Libro. Nesse espaço delicioso encontrei o livro "Ni de Eva ni de Adán" de Amélie Nothomb, que espero poder traduzir e quem sabe obter a autorização para lançá-lo pela Nhambiquara. A autora é uma bela jovem que nasceu em Kobe no Japâo, mas descende de familia belga e hoje mora em Bruxelas. Ganhou projeção Internacional com seu livro Estupor Temblores. Ela escreve com muito bom humor e de maneira biográfica, trazendo uma peculiar visâo do Japão e ao seu tempo de infancia quando lá viveu. Aí vai o endereço da la Buena Vida, que segundo seu proprietário Jesus, amante da música brasileira, pode enviar seus livro a qualquer canto do Brasil.
http://www.labuenavida-cafedellibro.es/

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Contando Histórias - Fazendo História. EDUC. 2007

Contando Histórias marcou um ponto de inflexão importante na discussão de práticas de investigação no programa de Pós-graduação em psicologia Social da PUC-SP. Inovou, primeiro, na busca de uma relação horizontal com o campo, uma relação de diálogo e debate, de engajamento ativo nas questões em foco em vez de observações frias e independente, mesmo quando descrito como participante. Inovou também ao abrir mão de um método específico, selecionado anteriormente a partir de uma discussão metodológica abstrata e de adotar qualquer caminho que parecia útil para melhorar a compreensão e o diálogo; trocando o metodológico pelo metódico. Finalmente inovou ao buscar uma maneira de contar a pesquisa, que respeitaria o campo em que foi inserido e de trazer um pouco de sua riqueza para as páginas frias de uma tese de mestrado. Se hoje discutimos com tranquilidade conceitos teóricos e metodológicos como campo-tema, lugares, saberes e praticas situadas, se hoje buscamos com igual tranquilidade criar maneiras mais adequadas para redigir uma pesquisa cada vez mais rediscritiva, é em grande parte o resultado das discussões que se deram coletivamente em volta do trabalho de João Bosco.
Professor Peter K. Spink

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Sapucaya

Sapucaya a Grande Árvore e a origem dos bichos.


Contam os antigos que no começo do mundo nada existia.

Depois surgiu o sol Aram, que corria durante o dia e a lua Aamo que dançava durante a noite no firmamento. Vez ou outra Aram o sol esperava Aamo a lua aparecer radiante para vê-la dançar.

Foi nesse tempo que apareceu Sapucaya a Grande Árvore, que surgiu da união das forças de Iby a terra, Ig as águas, Ibytu o vento. Ela era uma árvore frondosa, bela, seus últimos galhos beijavam as nuvens de tão alto, suas folhas cantavam quando a brisa soprava e suas raízes profundas conheciam a intimidade de Iby a terra e dela se alimentava. Somente ela assistia a dança da lua e a corrida do sol.

Certo dia, contemplando a beleza do firmamento ela se sentiu só. Sapucaya então, com infinita sabedoria gerou um monte de frutos. Os frutos em outras árvores se transformaram e se espalharam formando a floresta. Muitos frutos foram gerados por ela e suas irmãs Juvia, Jussara, Anami, Ingá, Babaçu e tantas outras.

Sapucaya a Grande Árvore viu que não havia nada que se alimentasse dos frutos espalhados pela floresta e aí, ela por um encanto, bondosamente transformou seus frutos e deles nasceram os primeiros bichos.


Assim começa o novo livro de João Bosco destinado às crianças.Tem uma narrativa de lenda indígena resgatando algumas palavras do tupi-guarani e brincando com uma cosmogenia ecológica baseada em vários mitos. No segundo semestre teremos lançamento.